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Mãe e filho

Superando barreiras

Escrito por Mateus Moreira

Desafios e Avanços na Inclusão de Pessoas com TEA no Brasil

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O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado por desafios na comunicação, socialização e comportamento, exige uma abordagem integral para garantir a inclusão e o bem-estar dessas pessoas na sociedade. A identificação precoce do autismo é essencial para melhorar os prognósticos, mas no Brasil, o diagnóstico ainda enfrenta barreiras significativas. De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), estima-se que 1 a cada 36 crianças no Brasil estão dentro do espectro autista. Estudos mostram que em média, crianças brasileiras recebem o diagnóstico apenas entre os 4 e 5 anos de idade, enquanto o ideal seria que isso ocorresse antes dos 3 anos. Essa demora está relacionada à falta de capacitação de profissionais de saúde e à escassez de informações acessíveis às famílias, principalmente em regiões menos desenvolvidas.

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Outro grande desafio é o acesso a terapias especializadas. O tratamento de pessoas com TEA frequentemente requer abordagens multidisciplinares, envolvendo fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais e outros especialistas. No entanto, o SUS enfrenta limitações para atender à demanda crescente. Segundo dados do Ministério da Saúde, até abril de 2024 existiam 266 centros especializados em reabilitação que estariam habilitados para atender autistas pelo SUS. Em muitas cidades, há listas de espera que podem durar anos, o que prejudica o desenvolvimento das crianças e aumenta o estresse das famílias cuja única forma de acesso a atendimento médico é pela rede pública.

 

A inclusão escolar também é um tema central nas discussões sobre o autismo no Brasil. Embora a Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) garanta o direito à educação inclusiva, na prática, muitas escolas não estão preparadas para receber estudantes com TEA. Professores relatam a falta de formação adequada, enquanto pais enfrentam dificuldades para encontrar instituições que acolham verdadeiramente seus filhos. Segundo dados do Censo de Educação Básica, de 2022 a 2023, o número de crianças e adolescentes com TEA matriculados em salas de aula comuns, ou seja, junto com alunos sem deficiência teve um aumentou significativo. 

 

 

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Esses dados reforçam a necessidade e importância de políticas públicas mais efetivas na capacitação de educadores e na estruturação das escolas.

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Um exemplo que ilustra essas dificuldades é a experiência de Katarina Moreira, mãe de Mateus Moreira, atualmente estudante de Jornalismo. Em uma entrevista exclusiva, Katarina compartilhou a experiência de criar seu filho diagnosticado com Transtorno do espectro autista (TEA). A jornada de Mateus, desde os primeiros sinais até a busca por inclusão e desenvolvimento, foi marcada por desafios significativos tanto para ele quanto para sua mãe.

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Na entrevista, Katarina compartilha os desafios enfrentados após o diagnóstico de TEA de seu filho, Mateus, e a luta constante pela inclusão e apoio necessário​

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Os primeiros sinais
 

Katarina contou que começou a suspeitar que Mateus estivesse no espectro autista por volta dos 8 ou 9 anos de idade.

 

“Seu comportamento de roer unhas, ansiedade, você se machucava, chupava os braços, coçava demais os olhos, se arranhava. Todas as roupas incomodavam, só queria vestir as mesmas roupas e sapatos. Não gostava de toque de outras pessoas, exceto eu e os bem próximos com limites. Dificilmente se socializava. Tinha transtorno opositor desafiador, dificuldade de concentração e aprendizagem”, revelou.

 

A busca por diagnóstico e acompanhamento
 

Ao perceber os sinais, Katarina procurou ajuda especializada, enfrentando diversas barreiras.

 

“Neuropediatra, psicólogo e depois psiquiatra da infância e adolescência. Os custos foram altos e os acompanhantes são frequentes e continuadamente até hoje”, relatou.

 

Inclusão educacional e desafios acadêmicos

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A experiência de Mateus nas instituições de ensino também foi marcada por dificuldades, especialmente no processo de inclusão.

 

“A maior dificuldade foi a adaptação e a inclusão escolar, com sofrimento de bullying e conflitos frequentes na escola, o que acabou prejudicando a sua socialização e aprendizado, sendo sempre necessário o reforço escolar. As escolas contribuíram muito pouco, infelizmente, tivemos decepções, principalmente no Anglo Brasileiro, uma escola de custo alto, bilíngue, tempo integral. Investimos muito e o retorno foi insatisfatório e prejudicou muito o andamento. O melhor acolhimento foi no Cândido Portinari, com as medidas inclusivas”, explicou.

 

Dificuldades na criação e apoio familiar
 

Katarina também refletiu sobre os desafios de criar um filho com TEA, enfrentando dificuldades financeiras, sociais e comunicacionais.

 

“Foi difícil demais para eu lidar com tudo isso, você era muito diferente de quando eu era criança, sem querer eu acabava comparando com as demais crianças que conviviam conosco, seus irmãos e primos. Eu sempre tive que trabalhar muito e bancar o sustento da casa, seu pai me ajudava nas funções de casa, mas acabava atrapalhando a sua evolução em relação ao tratamento, negando que você tinha qualquer problema real. O mais difícil foi lidar com os toques e manias das mesmas vestimentas, sapatos etc, além da dificuldade de socializar. Eu sempre fui muito sociável e era difícil administrar tudo isso com a minha rotina de vida corrida. Fiz 6 anos de terapia para me ajudar a lidar com tudo isso.”

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Uma triste realidade

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Além dos desafios no campo da saúde e da educação, o preconceito continua sendo uma barreira significativa para a inclusão social. Muitas pessoas com autismo e suas famílias relatam discriminação e estigmatização, o que evidencia a importância de campanhas de conscientização para desmistificar o transtorno. Segundo dados extraídos pelo Instituto de Educação e Análise do Comportamento (IEAC), 55,1% das crianças já sofreram preconceito na escola por serem autistas. O preconceito contra pessoas com autismo está ligado à falta de conhecimento sobre o transtorno e afeta o autoconceito, a autoestima e a forma como as pessoas no espectro são vistas socialmente. O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, é uma oportunidade para promover diálogos sobre o tema, mas esforços contínuos são necessários ao longo do ano.

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Avanços nas políticas de Inclusão

 

Apesar das dificuldades, o Brasil tem avançado em alguns aspectos. A criação da Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Lei nº 12.764/2012) foi um marco importante. Essa lei reconhece os direitos das pessoas com autismo e estabelece diretrizes para sua proteção e inclusão. Além disso, iniciativas da sociedade civil, como associações de pais e ONGs, têm desempenhado um papel crucial no apoio às famílias e na luta por melhorias nos serviços públicos. Em Salvador existem instituições especializadas em autismo como a Associação de Amigos do Autista da Bahia (AMA), e o Centro de Referência Estadual para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (CRE-TEA) que oferecem apoio, atendimento, acompanhamento e orientação para crianças no espectro e seus responsáveis.

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​O CRE-TEA, localizado no Campo Grande, oferece atendimento especializado a 220 pacientes, com uma equipe multiprofissional composta por médicos psiquiatras, neuropediatras, e outros especialistas. A unidade realiza terapias, capacitação de profissionais de saúde e educação e dispõe de uma estrutura com salas de atendimento e área externa para atividades de interação. O cadastro para a fila de espera pode ser feito de segunda a sexta-feira, das 8h às 9h ou das 13h às 14h, mediante apresentação de relatório médico com suspeita ou confirmação do diagnóstico.

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​Já a AMA-Bahia, localizada em Pituaçu, atende atualmente 306 pessoas com TEA, oferecendo apoio gratuito, mas enfrenta uma lista de espera com mais de 1500 pacientes. A organização sem fins lucrativos busca ampliar seu atendimento para atender a demanda crescente. O telefone para contato da AMA-Bahia é (71) 3363-4463, e o horário de funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Ambas as instituições são fundamentais na promoção da inclusão e no suporte às famílias de pessoas com autismo, enfrentando desafios significativos em um contexto de alta demanda por serviços especializados.

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Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), cerca de 6 mil pessoas com autismo estavam matriculadas no ensino superior brasileiro em 2023, um aumento de mais de 500% em relação aos 980 registrados em 2017.

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​​​​​Esse aumento indica uma maior conscientização e inclusão de pessoas com TEA, efeitos das políticas públicas e legislações, diagnósticos mais frequentes e precoces, apoio familiar e social e uma melhoria nas instituições no quesito adaptação para esses alunos, garantindo que pessoas no espectro ingressem e concluam o ensino superior com qualidade e equidade.​​​​​​​​​​​​

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O CRE-TEA em Salvador oferece atendimento especializado para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), com equipe multiprofissional e acompanhamento médico, atendendo 220 pacientes e realizando ações de capacitação.

A AMA-Bahia atende 306 pessoas com TEA e possui mais de 1500 na lista de espera, buscando expandir seus serviços.

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